| Resumo: | Os últimos dois anos foram marcados por uma situação completamente atípica e desconhecida para todos: uma pandemia mundial provocada pelo SARS-COV-2. Por motivos de saúde pública, o governo português viu-se obrigado a decretar uma série de medidas restritivas da livre circulação das pessoas, que resultaram em vários períodos de confinamento geral de toda a população, ao abrigo da situação de Estado de Emergência, decretada pela primeira vez a 18 de março de 2020.
Com o encerramento das escolas, em março de 2020, cerca de dois milhões de crianças e jovens em idade escolar foram para casa e passaram a ter aulas à distância (Santos E. , 2020). A alternativa do ensino à distância, marcado por diferenças fraturantes em função da origem social e familiar de cada aluno, tornou-se uma necessidade fundamental. A par das escolas fecharam também todos os espaços de socialização, de atividade social e de interação humana,essenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, entre os quais os Centros de Atividades de Tempos Livres (CATL). Sabe-se hoje que, desde o início da crise da Covid 19, o confinamento acabou por comprometer fortemente as oportunidades de crescimento e desenvolvimento das crianças, sobretudo das que são oriundas de meios sociais mais desfavorecidos.
Enquanto auxiliar de educação num CATL, propus-me conhecer o olhar das crianças que frequentavam o CATL, a respeito do impacto do confinamento no seu bem estar: qual a perceção das crianças a respeito do impacto do confinamento nas suas rotinas diárias?; Quais as suas representações sobre os efeitos do ensino à distância nas suas aprendizagens escolares?; Como avaliam o papel do CATL no seu crescimento e desenvolvimento?; E o que têm a dizer sobre as respostas que o CATL forneceu durante o período de confinamento?.
A presente dissertação visa, pois, apresentar os resultados de uma investigação, realizada entre janeiro e junho de 2021, e que teve dois objetivos fundamentais: i) conhecer as representações por parte de um grupo de dezassete crianças que frequentavam o CATL situado no Bairro de S. Tomé, no Amial no Porto, sobre o impacto do segundo confinamento (ocorrido entre 22 de janeiro de 2020 e 11 de março de 2021) no seu bem estar, muito em particular ao nível das suas rotinas diárias e das suas aprendizagens escolares; ii) conhecer a avaliação das crianças a respeito das atividades que o referido CATL realizou durante o período pandémico.
O processo de recolha de informação para o presente estudo contou com a administração direta de um questionário a dezassete crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos, aplicado presencialmente no espaço do CATL, ao longo do mês de abril.
Os resultados sugerem que as atividades propostas pelo CATL durante o confinamento foram importantes, do ponto de vista das crianças, para combater o seu isolamento social. Revelam, porém, que em virtude das dificuldades escolares acrescidas com o ensino à distância, esperavam ter tido um maior acompanhamento em matéria escolar, por parte do CATL, durante período em que estiveram confinadas. |
