| Resumo: | O ponto de partida para este trabalho emergiu da reflexão acerca das realidades e vivências das crianças
e jovens cuja identidade de género não se conforma com o sexo biológico. Desta forma pretendeu-se
explorar o modo como crianças e jovens experienciam a vivenciam a sua realidade trans*, assim como
identificar os seus fatores de stress e proteção internos e externos. Ao mesmo tempo pretendeu-se
explorar a pertinência do Serviço Social na intervenção com estas crianças e jovens, assim como qual o
grau da emergência destas práticas em Portugal, lançando algumas pistas para uma intervenção do
Serviço Social mais afirmativa e desconstrutiva. A pertinência deste tema e trabalho explica-se por duas
vias: primeiro, devido à invisibilidade que estas crianças e jovens trans* têm na sociedade, tornando-se
necessário dar-lhes voz para que enfrentem as limitações impostas pelos sistemas cisheteronormativos;
em segundo lugar, e por se reconhecer as carências da investigação do Serviço Social na área de género,
mais predominantemente na área de género na infância e juventude, é necessário que se criem linhas de
orientação e conhecimento científico para uma melhor intervenção. A investigação assentou numa
metodologia qualitativa desenvolvida através de entrevistas semiestruturadas com recurso a guião, a 3
grupos diferentes de participantes: 2 profissionais de género em contexto LGBTIQ+; 4 assistentes que
já intervieram com crianças ou jovens trans*; e por fim 3 jovens trans*.Para a sistematização dos dados
procedeu-se à análise temática, segundo as propostas de Braun e Clarke (2006), tendo emergido cinco
temas: (i) experiências e vivências pessoais; (ii) fatores de perigo e proteção externos; (iii) atualidade
do Serviço Social; (iv) entraves, dilemas e dificuldades do Serviço Social; e por fim (v) urgências e
emergências do Serviço Social. Através deste temas é possível concluir que ainda existe uma grande
invisibilidade de crianças e jovens trans* por parte da sociedade, e que os sistemas e fatores família,
escola, políticas públicas, instituições de infância e juventude e Sistema Nacional de Saúde, são os
principais fatores de perigo, mas também de proteção destas crianças e jovens. Conclui-se também que
é emergente uma reciclagem daquilo que são as práticas e as ferramentas do Serviço Social afim de se
fornecer serviços inclusivos, afirmativos e não opressores. Este estudo vem trazer um conhecimento
mais aprofundado daquilo que são as vivências e fatores de perigo e proteção de crianças e jovens trans*,
e ainda perceber o longo caminho que o Serviço Social tem a percorrer, sugerindo assim a criação de
uma carta com linhas orientadoras para a intervenção com crianças e jovens trans*. |